7 de jan. de 2012

Carta de despedida

Fonte: www.blogsimplesassim.com
Olá. Espero que esteja tudo bem com você.
Escrevo para pedir um pequeno favor, tomara que não seja nenhum inconveniente. É algo pequeno e simples, fácil de fazer. Vai te tomar algum tempo, dependendo do quanto você quiser ser transparente e honesto. Mas se quiser apenas atender meu pedido, de forma simples e direta, levará poucos minutos. Talvez segundos.
Sem mais delongas, queria te pedir que me escrevesse uma carta de despedida. Uma simples carta, onde vai me dizer adeus. Caso queira apenas usar essa palavra, vou entender. Mas se não for pedir muito, nem abusar de sua imensa boa vontade, faça um esforço maior e me explique as razões deste adeus. Seja um rude "não te quero mais", seja "você não é o que esperava", "encontrei outro alguém" ou simplesmente "somos diferentes demais".


Vou te explicar o motivo deste pedido. Há anos convivo com uma amiga inconveniente, chamada dúvida. Uma amiga dela, chamada culpa, volta e meia nos visita. Com elas, me ponho a pensar em uma lista imensa de motivos para a despedida que nunca fui. Errei em algum lugar, tenho certeza disso. Mas sem essa simples carta de despedida, essas duas passaram a atormentar minha vida.
É normal a gente querer deixar de amar alguém, de ser amigo de alguém. Algumas pessoas simplesmente somem na poeira do vento, sem deixar rastros. Não se preocupam com o vazio da falta do adeus. Acreditam que a dor vai curar sozinha. E vai mesmo. Estão certas. É um jeito de partir. Outras são honestas e francas, se despedem com transparência e verdade. Há ainda aquelas que, com medo de magoar e ferir, inventam razões, trapaceiam com as palavras.
Dia desses, por conta das novas tecnologias, reencontrei um alguém que saiu de minha vida sem se despedir. Éramos apenas amigos, daqueles que se falam com frequência, que saem juntos às vezes. Confesso que, naquele tempo, existia alguma pontinha de sentimento brotando em meu coração, mas pequenina ficou. Esse amigo foi embora sem se despedir. Não lembro como me senti na época, talvez triste, talvez as amigas culpa e dúvida tenham vindo me visitar por uma temporada. Mas passou. Agora, nos reencontramos virtualmente. Ele finalmente enviou a carta de despedida. Dez anos depois.
Talvez já não faça mais sentido o que te peço. Afinal, já se foram tantos anos. Lágrimas, dores, novos amores, alegria, festas, novos amigos, o melhor beijo da história. O problema é que essas duas intrusas - dúvida e culpa - fazem o favor de ficar por perto. De vez em quando me trazem a vontade de entender os motivos do adeus.
Por outro lado, pode ficar tranquilo se não quiser mandar essa carta. Eu também me despeço de muitos sem me despedir. Vou desaparecendo devagarinho, deixando de ligar, de querer ficar junto. Tem vezes em que a gente continua gostando imensamente de alguém, mas nossos mundos não dialogam mais. Caminhos que se cruzaram mas agora seguem direções opostas. Continua o querer bem, o respeito, o carinho imenso. Mas também não digo adeus... Talvez para guardar uma essência do bem querer.
Ao encerrar este texto e pensar melhor, seu silêncio tem sido minha carta de despedida. O silêncio de quem escolheu partir sem olhar para trás. Invejo pessoas assim, porque sempre olho para trás. Despedir-me é dolorido como cair de bicicleta e ralar o joelho; como ter uma hérnia de disco (a maior dor do mundo) ou perceber que conseguiu sair viva de uma cena de morte.
Ficamos assim. Se quiser, escreva a despedida. Se não quiser, quem sabe daqui a alguns anos, pelo facebook ou outro canal de comunicação qualquer, a gente consiga finalmente dizer adeus. Sei que vou chorar neste dia. Como devem chorar as pessoas que recebem os corpos de seus amores mortos em acidentes, arrastados pelas correntezas das tempestades. A certeza da morte dói mais que a dúvida do afastamento. Mas é preciso aprender a lidar com as partidas. A porta se abre para que uma pessoa saia. Pela mesma abertura pode chegar outro alguém.

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