15 de jan. de 2012

Assassinaram a gramática

Fonte: http://educarparacrescer.abril.com.br/index.shtml
Ultimamente, ando assustada com a quantidade de erros de português que encontro na comunicação oral e escrita. Confesso: Também cometo meus erros, mas procuro revisar antes de publicar e, na medida do possível, corrigir.
Tem alguns erros que desconfio que sejam culpa dos corretores ortográficos dos sistemas computadorizados. Um deles é a eterna confusão entre o "há", do verbo "haver" e o "a", preposição. Hoje mesmo, no jornal, li uma manchete onde se usava equivocadamente uma forma pela outra. Não sei qual é exatamente a regra, mas para não errar, eu costumo relacionar o "há" com passado, como por exemplo "há dois meses chovia muito na cidade". Pode-se também relacionar com o sentido de "existir" ou "fazer".

Por outro lado, quando vou falar de uma situação temporal futura, uso a preposição, como por exemplo "Estamos a dois meses do final do campeonato". Confesso não saber exatamente a regra gramatical, mas dessa maneira costumo não errar. Aliás, nunca fui expert em regras, mas por ler bastante, acabei me acostumando às estruturas corretas. Sem exageros como próclise, mesóclise e ênclise, que já nem lembro mais para que servem!
Penso que, para os programadores que elaboram os corretores de texto, essas regras devem ser difíceis de tranformar em logarítmos que sejam automaticamente assumidos pelo sistema. O mesmo acontece com o verbo "atender" e "assistir". Eles pedem como complemento "ao" ou "à", dependendo da situação. O correto seria dizer "Atendi ao cliente" ou "Assisti ao filme". Mas acho que de tanta gente errar, "atendi o cliente" e "assisti o filme" já não assustam mais.
Ultimamente, tenho procurado me irritar menos. Talvez a língua portuguesa seja realmente algo em mutação. E essas mudanças, não necessariamente a tornarão melhor ou pior, apenas diferente. Certas coisas que aprendemos de um jeito, hoje se aceitam de outro. Essa mudança não é radicalmente contrária ao que sabíamos, mas vai ao encontro dos saberes e usos populares. Não se escreve mais como Padre Antônio Vieira, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Morais. Mas se escreve de alguma forma. E se entende também.
Fico pensando na comunicação e no quanto ela ganha ou perde com a flexibilidade do idioma. Trabalhei em uma multinacional alguns anos atrás (esse é outro erro comum, muita gente insere um "há" antes de alguns, o que torna a sentença redundante!) onde estrangeirismos eram muito comuns. Tanto que se incorporaram ao nosso jeito de falar e fazer negócios. Não tínhamos reuniões mensais, mas "monthly meeting". Ao invés de cafés da manhã com funcionários, "Skip Level Meetings". Eventos eram chamados de "Town Hall". Problemas, "opportunities". Por aí caminhava nosso vocabulário corporativo.
Outra coisa que me incomoda muito nos dias de hoje é a falta de estilo nos textos escritos. Muitas vezes leio em jornais ou revistas parágrafos onde uma mesma palavra é repetida cinco ou seis vezes. Pronomes e substantivos foram criados com essa finalidade, evitar repetições. Se a gente fizer uma brincadeira, vai achar um monte de maneiras de expressar um conceito, sem necessidade de repetir o que já escreveu. Lembro-me de um dos exercícios que eu gostava na escola: a busca de sinônimos e antônimos. Isso me ajudou a enriquecer o vocabulário. Sem contar nas palavras cruzadas e no monte de livros que ganhávamos frequentemente.
Acho que vou parar de ser chata e aceitar que as coisas mudam. Isso não me obriga a deixar de falar e escrever com clareza e correção (pelo menos tento!). Também acredito que sendo menos crítica vou sofrer menos. Talvez eu passe a viver em um mundinho mais limitado, onde um livro é mais importante que um Big Brother, nome que, aliás, teve origem em um livro, se não me engano de George Orwell.
Amo as palavras. Elas fazem parte de minha vida desde sempre. Mas sei que tudo muda e preciso entender o ritmo daquilo que vem. Daquilo que vai. Caso achem erros neste texto, por favor me avisem. Erro também ao escrever, tenho dúvidas, consulto dicionários. Por isso releio, procuro, gosto de receber feedback. Escrever é meu trabalho e procuro fazer isso com clareza, estilo e correção. Mas ninguém é perfeito, perfeito, perfeito...

Uma dica: sigo no twitter o perfil Educar para Crescer (@educarcrescer), uma iniciativa da Editora Abril. Gosto de fazer os testes e jogos. Veja alguns e experimente. É divertido e você pode avaliar a quantas anda o seu português. O endereço do site, para quem quiser conhecer outros conteúdos, é http://educarparacrescer.abril.com.br/index.shtml.

Jogo do Hífen: aqui você pode ver se sabe usar corretamente esse tracinho que muita gente pensa que não serve para nada!
Jogo da Acentuação: para testar se está por dentro das novas regras após o acordo ortográfico. Esse eu vivo errando tudo!
Jogo das Palavras: para treinar como se escrevem certas palavras que sempre nos deixam confusos.

 

Nenhum comentário: