12 de abr. de 2011

Coragem para renascer

Fonte: www.cantodapaz.com.br
Estamos às vésperas da Páscoa. Nesta época, a liturgia da igreja Católica é rica em simbolismos, que tocam as pessoas de diferentes maneiras. A de hoje teve como tema a ressurreição de Lázaro, amigo a quem Jesus amava.
Movido pela fé e pela crença em Jesus, Lázaro ressucita do mundo dos mortos. Jesus o chama e ele sai do túmulo, ainda envolto nos tecidos que faziam parte dos rituais fúnebres. A partir desse momento, muitos passaram a crer que Ele era o Messias, o filho de Deus que havia sido mandado à terra.
Enquanto ouvia Padre Júlio na igreja, uma idéia foi se maturando em minha mente. Recentemente, um amigo querido, a quem admiro como pessoa e profissional, tomou coragem para uma mudança radical de vida, ao deixar sua cidade e mudar-se para uma maior, em busca de conhecimento, satisfação pessoal e, acredito, felicidade.
Sua mudança de vida me fez refletir muito sobre o que anda acontecendo com as pessoas de nossa geração. Muitos de nós atingimos aquele momento em que conquistamos o suficiente para uma vida confortável. Um bom relacionamento, um emprego estável, bens materiais como casa, carro, boa educação, condição para fazer algumas viagens, talvez filhos.
Então, entramos em uma espécie de zona de conforto. Algo parecido com a música do Kid Abelha: "A vida, que me ensinaram, como uma visa normal. Tinha trabalho, dinheiro, família, filhos e tal... Era tudo tão perfeito, se tudo fosse só isso... Mas isso é menos do que tudo... É menos do que eu preciso."
Voltando à analogia de Lázaro, em certo momento a gente se recolhe a uma espécie de câmara, que não é mortuária, mas nos mantém em um estado de quase morte. Um estado onde, mesmo insatisfeitos com os desafios do trabalho, empurramos com a barriga em nome do salário e do status. Mesmo reclamando dos nossos corpos, continuamos comendo mal e sem fazer exercicios. Ainda que venha uma vontade enorme de estudar, nunca achamos tempo. Algumas vezes, ainda que o relacionamento tenha problemas, preferimos manter as aparências.
Como Lázaro, nos envolvemos pelos panos do status, da estabilidade financeira e emocional, do modo familiar como tudo sempre aconteceu em nossas vidas. Infelizmente, algumas vezes os panos vendam nossos olhos. Como Lázaro, fechamos a porta de pedra e nos isolamos em um mundo familiar, algumas vezes frio, algumas vezes acolhedor. Nele vivemos da maneira como nos acostumamos. Eventualmente, deixamos a paixão do lado de fora.
Mas um dia, eis que uma voz nos chama, como a voz de Jesus chamou a Lázaro. Levanta-te e vem. Acontece que a voz que nos chama não necessariamente tem algo de divino. Muitas vezes ela é humana mesmo. É a nossa própria voz, que nos avisa, em alto e bom som, que é tempo de voltar à vida. Não àquela que nos ensinaram, mas àquela que queremos começar a construir.
Momentos de ruptura com o passado. Em que iniciamos a redação de uma nova história. Em que abandonamos o que era conhecido e familiar para abraçar o novo. Em que rompemos com o ciclo "família, filhos e tal" e voltamos os olhos para dentro. Nestes momentos, é possível voltar à vida. Voltar a sentir a energia de quem tem um propósito pessoal: ser feliz.
Há alguns anos, iniciei minha própria ruptura. Como Lázaro, renasci para uma vida diferente, onde me dedico a aprender e a ensinar. Tive dificuldade, muita dificuldade em deixar para trás os panos que me cobriam. Foi como arrancar pedaços de mim mesma, com os quais estava tão familiarizada. Mas no fim das contas, valeu a pena.
Esse meu amigo trocou uma vida familiar pela oportunidade de retomar os estudos. Li sua história no jornal e passei a semana toda querendo escrever sobre ele e sua coragem. Uma de minhas irmãs, depois dos 40 anos, resolveu ter um filho, depois de ter criado um que já está na faculdade. Um casal de amigos reorganizou toda a sua vida em nome do sonho de ter filhos e vê-los crescer. Outro amigo mudou-se de cidade aproveitando uma oportunidade profissional única. Cada um a seu modo, souberam tirar fora os panos que cegavam seus verdadeiros impulsos rumo à felicidade.
É preciso ter coragem para atender a este chamado. Levanta-te e muda sua vida. Não podemos parar a chuva apenas porque reclamamos dela. Mas podemos ir a qualquer lugar com um bom guarda-chuva. Somos capazes de remover a pedra que nos fecha em uma vida que ainda não está plena. Temos o privilégio de reescrever nossa própria história. Páscoa é tempo de ressurreição, de ouvir o chamado para um estado de felicidade.
Admiro pessoas que, como Lázaro, aprenderam a ouvir seu coração. E seguem sua voz, seja ela soprada por Jesus ou por alguma força mágica que conspira com o universo.


Texto em homenagem a Rogério Cunha, pessoa sensível, amigo querido a quem vi florescer e agora, tenho a alegria de ver reescrever sua própria história. Não somos próximos, mas sempre o respeitei muito. Fará falta em meu dia a dia, nas páginas do jornal. Mas estou torcendo para acompanhar novos capítulos de uma história muito bonita.

11 de abr. de 2011

Uberlândia Integrada: convencimento por meio de ações de Relações Públicas

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Mês passado, a Prefeitura Municipal de Uberlândia divulgou, com bastante ênfase, o Uberlândia Integrada, um mega projeto para o trânsito das principais vias urbanas e rodoviárias da cidade. Li bastante a respeito, assisti a reportagens da TV, mas não me senti totalmente convencida sobre seus benefícios. Até que, semana passada, participei de uma palestra com Dílson Dalpiaz Dias, Secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Uberlândia.
Ele fez uma palestra para alunos do primeiro período da faculdade onde dou aulas. Dílson, que é engenheiro, é um dos melhores profissionais de comunicação que conheço (abaixo o corporativismo, colegas jornalistas, publicitários e relações públicas!). O objetivo do encontro era falar sobre as oportunidades da cidade para os grandes eventos esportivos que acontecerão no Brasil em breve (Copa das Confederações, Copa do Mundo, Olimpíadas). Ao final de sua apresentação, ele apresentou o vídeo do projeto Uberlândia Integrada.
Na medida em que fui assistindo, percebi o impacto que as mudanças trarão para o trânsito da cidade. Vias mais largas, viadutos, terminais de integração de ônibus, mais segurança para pedestres no cruzamento de vias de alto movimento. O vídeo, muito bem produzido pela equipe da Cinefilmes (quem quiser assistir, clique aqui), nos mostra uma cidade do futuro, preparada para o crescimento populacional, para captar águas da chuva, para atender motoristas, pedestres e usuários do transporte público. Somando-se ao discurso do Secretário de Desenvolvimento Econômico, o audiovisual ajuda a convencer até os mais céticos, como eu me via até aquele momento.
O projeto foi muito bem desenvolvido do ponto de vista de engenharia, urbanismo, preocupação ambiental. Não sou especialista em nenhuma dessas áreas, mas colegas professores comentaram isso após a apresentação. Fiquei preocupada apenas por não enxergar, por enquanto, questões que considero relevantes, como a educação e conscientização de motoristas e pedestres para um trânsito mais humano. Enquanto assistia à apresentação fiquei pensando em meus próprios hábitos, como o de ir ao centro de carro, pagar caro em estacionamento, quando poderia muito bem ir de ônibus. Tenho uma bicicleta que nunca sai da garagem. Vou de carro à padaria...
Vale adicionar também a importância das ações de Relações Públicas para que a comunidade entenda e participe ativamente do projeto. Eu já havia sido informada sobre ele. Mas o contato com o Secretário Dilson Dalpiaz Dias, seu entusiasmo, o vídeo que mostra em detalhes o que está projetado, tudo isso contribuiu para me convencer finalmente.
Muitas empresas locais são míopes para a importância da comunicação integrada, que envolve ações de Propaganda, Jornalismo e Relações Públicas para a conquista dos corações e mentes dos públicos que pretendem influenciar. Comunicação é vista como algo caro, supérfluo até. Na palestra a qual assisti haviam cerca de 120 jovens. No dia seguinte, mais de 200 já haviam copiado o filme, que foi deixado na biblioteca da faculdade. A palestra foi tema de várias aulas. Creio que pelo menos 500 pessoas foram influenciadas positivamente naquela semana. Essas pessoas tem famílias e amigos. Imagine o potencial de multiplicação das mensagens.
Comunicação Integrada é fácil de fazer. Tem custo sim, justamente porque tem valor. Neste ponto, a equipe da Prefeitura Municipal de Uberlândia está de parabéns. O projeto Uberlândia Integrada pode ter falhas, o custo é alto, faltam ações culturais. O transporte coletivo ainda é falho, os viadutos e as obras darão muita dor de cabeça aos motoristas. Mas tenho certeza de que, em poucos anos, teremos ainda mais amor pela nossa cidade.

10 de abr. de 2011

Atropelamentos: mistura de imprudência e pressa

Campanha de trânsito divulgada
no site
www.viatram.com.br

Desde o início de 2011, há apenas quatro meses, cerca de 70 pessoas foram vítimas de atropelamento em Uberlândia. Essa informação consta em matéria sobre uma nova vítima, atropelada e morta em frente ao campus Santa Mônica, em uma das avenidas mais movimentadas da cidade, a João Naves de Ávila. Tanto pedestre quanto motorista foram imprudentes, de acordo com o que foi publicado pelo jornal Correio.
A frota de carros e motos da cidade não pára de crescer. Mas parece crescer menos que nossa imbecibilidade. Sim, somos imbecis correndo o tempo todo para ganhar poucos segundos. Tanto a vítima, que atravessava no lugar inadequado, quanto o motorista, que decidiu invadir a pista reservada aos ônibus. Os segundos podem ter sido ganhos. Um perdeu a vida. O outro, a paz de espírito. Ambos pareciam estar errados.
Moro ao lado do campus da UFU. Vislumbro acidentes todos os dias. Motoristas, normalmente apressados, invadem com muita frequência o corredor reservado aos ônibus. Muitos avançam os dois sinais consecutivos instalados na porta da universidade. Pedestres frequentemente evitam a passarela elevada e cruzam a perigosa avenida mesmo com o sinal aberto para os carros. Na tentativa de ganhar alguns segundos, correm o risco de perder as próprias vidas.
Policiamento? Educação no trânsito específica para estes trechos? Nunca vi. E passo por ali todos os dias.
Fico refletindo sobre o motivo de tanta pressa, de tanta impaciência. Por que será que sempre queremos ganhar alguns segundos, mesmo tendo que descumprir a lei? Os corredores de ônibus são um exemplo. Quantas e quantas vezes são utilizados por motoristas impacientes, querendo chegar a todo custo ao seu destino. Ocasionalmente, ficam presos atrás dos próprios ônibus, por não conseguirem retornar à pista. Outras, forçam o retorno jogando seus carros sobre o dos motoristas que trafegam corretamente.
Em frente ao Center Shopping, pedestres cotidiamente se enfiam na frente dos carros para evitar o pequeno retorno que precisam fazer entre o momento que descem do ônibus e o acesso de entrada ao local. Aliás, até hoje não sei como ninguém foi atropelado naquele pedaço da avenida. As pessoas simplesmente brotam do nada, entrando na frente dos carros. O semáforo está poucos passos adiante. Mas antes colocar a vida em risco a perder alguns segundos.
Sei que a polícia pode fazer muito pouco, mas fiscalizar já ajudaria. Uma viatura no horário de pico, em frente à Universidade e ao Center Shopping seriam muito bem vindas. Guardas da Setram multando quem desrespeitar as normas de trânsito, sejam pedestres ou motoristas. Um radar bem visível, lombadas. Coisas simples e que poderiam salvar vidas. Talvez os dois locais mereçam passarelas, dada o intenso fluxo de pedestres e carros. Imagino que a situação irá se agravar em breve, com novos moradores mudando-se para as centenas de unidades habitacionais construídas nos bairros Santa Mônica e Finotti. Outro agravante será o viaduto sobre a Rondon Pacheco, que aumentará a velocidade dos carros na João Naves.
Já que teremos tantos investimentos para melhorar o trânsito, precisamos também de alternativas para reduzir a insanidade dos motoristas e pedestres. Na vizinhança da UFU, semáforos e lombadas. Se a João Naves é perigosa, a Segismundo Pereira é muito mais. A saída dos alunos não tem qualquer item que favoreça os pedestres. Nem semáforo, nem faixa elevada. Em pouco tempo, um condomínio enorme elevará o número de carros na região e será quase impossível atravessar ali sem a existência de um semáforo e de um radar, porque muitos motoristas tenderão a desrespeitar esse sinal. Na avenida Belarmino Cotta Pacheco, em frente a uma escola infantil, um semáforo tenta conter motoristas para que as crianças possam atravessar em segurança. É comum ver motoristas ultrapassando este sinal. A escola deve ter pouco mais de 50 alunos. Quantos frequentam o campus?
O campus Santa Mônica está abarrotado de gente e de carros. O bairro Santa Mônica está abarrotado de gente e de carros. A sinalização é precária. O respeito pelo pedestre, inexistente. Quantas pessoas ainda vão morrer por imprudência e falta de uma ação concreta?

Combate à dengue: um mal necessário

Símbolo da campanha contra a dengue.
Fonte: http://www.uberlandia.mg.gov.br/
Recentemente, senti na pele (e no bolso) os efeitos do descaso que ainda temos quando se trata do combate à dengue. Procuro cuidar da minha casa, do quintal, da água dos cachorros, do lixo reciclado, dos vasilhames descartados. Mas ainda assim, acabei sofrendo os efeitos deste problema que afeta a todos, de uma maneira inusitada.
Na semana passada, a equipe da Zoonoses visitou minha casa por duas vezes. Na primeira constatou que tudo estava bem, jogou aquele veneno nos ralos, fez as perguntas de costume e foi embora. Um dia depois, uma nova visita. Dessa vez, queriam jogar Fumacê no meu quintal. Minha ajudante estava em casa neste momento, me ligou e perguntei quais seriam os efeitos sobre os cachorros. Eles garantiram que não haveria qualquer tipo de problema, bastava que eles ficassem isolados por duas horas.
Com essa explicação, autorizei a aplicação do Fumacê. Minha ajudante isolou os cachorros e eles fizeram o trabalho. Ao final, quando já haviam aplicado o veneno, avisaram que a roupa que estava no varal deveria ser lavada novamente (não pediram para ela recolher antes...). Ela me ligou novamente, avisou sobre as recomendações, fechou a casa e foi embora.
Um dia depois, um dos meus cachorros começou a demonstrar sinais de indisposição. Como sempre acontece nesses casos, ela comeu a grama que fica no quintal, em alguns vasos. Na madrugada desse dia, começou a ter vômitos e diarréia. Além disso, encheu-se de pelotas em todo o corpo, em uma forte reação alérgica. Levei-a ao veterinário imediatamente e ela teve que ficar internada para uma desintoxicação. Ao longo do dia, foi registrada a presença de urina no sangue. Mas o organismo dela se recuperou e tudo ficou bem. Foi um susto grande e um gasto totalmente imprevisto.
Diante da desconfiança de que pudesse haver alguma relação entre a intoxicação e o Fumacê, liguei para o Centro de Controle de Zoonoses e fui muito bem atendida por um rapaz que me explicou que aquilo jamais poderia ocorrer. Que o veneno apenas matava os insetos e que o único efeito seria o mau cheiro. Explicou-me também que o veneno é distribuído pelo Ministério da Saúde para todo o Brasil e que é inofensivo. Inquieta, fui ao google e descobri que o governo utiliza um inseticida organofosforado e que existem muitas controvérsias a respeito do seu efeito sobre pessoas e animais. Pareceu-me que nada existe de conclusivo em relação aos compostos, mas tudo me leva a crer que minha cachorrinha teve uma reação alérgica a um desses componentes. A suspeita do veterinário foi a mesma.
Agora tudo passou. Ela ainda está tomando uma injeção diária para combater os efeitos da intoxicação, seu comportamento está estranho e ela não tem controle da função urinária. A veterinária me disse que isso vai passar, mas penso que poderia ter sido evitado. Bastava que as informações acerca do inseticida contivessem alerta quanto aos riscos para animais domésticos. Eu teria apenas tirado os animais de casa e autorizado a aplicação.
Reconheço que o problema da dengue é sério e que todos temos que fazer nossa parte. Tanto que autorizei que entrassem em minha casa para jogar o Fumacê, com a garantia de que não faria mal aos animais. De agora em diante, se for meu direito, não vou mais autorizar. Meu bairro deve estar sofrendo uma alta infestação, porque quando conto essa história todos estranham o Fumacê jogado dentro da casa. É importante combater a dengue eliminando as larvas e os mosquitos. Mas todo o cuidado é pouco. Contra-indicações sempre existem. Aqui em casa, creio que fomos vítimas de uma reação adversa, da qual poderíamos ter sido avisados desde o começo.
Meu objetivo não é culpar ninguém pelo ocorrido. Foi um incidente. Minha cachorrinha é alérgica e já teve problemas semelhantes. Meu outro cachorro não teve nada. Mas acho que vale a pena alertar outros proprietários de animais e também a Zoonoses. Se houve animais domésticos em casa, melhor pedir que sejam retirados ou adiar a aplicação do veneno. E vamos todos continuar evitando que os focos de larvas do Aedes Aegypt se multipliquem. Nunca tive a doença, mas ela acabou me atingindo da mesma maneira. Mais do que nunca, serei cuidadosa em minha casa para evitar que eles se multipliquem por aqui.