23 de jan. de 2011

Calçadas são para pedestres?

Eventualmente, vejo um rapaz na cadeira de rodas que passa pela minha rua disputando espaço com carros, motos e bicicletas. Ele vai pela rua mesmo, sem nem tentar andar pelas calçadas. Isso não me surpreende. Ao caminhar pelo meu bairro, muitas vezes sou obrigada a andar pela rua para evitar obstáculos como árvores, lixeiras, mato crescendo, lixo.
Hoje, no final da tarde, resolvi passear pelas ruas do bairro com a intenção de fotografar algumas situações onde uma cadeira de rodas simplesmente não passa. Outras em que as pessoas foram sensatas ao colocar lixeiras e plantas. Vi um pouco de descaso, como árvores sem podar, que atravancam a passagem do pedestre, quanto mais daquele que precisa de cadeira de rodas para se locomover.
São imagens que sempre vejo, mas depois de observar o rapaz que passa pela minha rua, tentei ver com os olhos dele. Pensei na largura necessária para uma caderia de rodas, na altura em que árvores e lixeiras deveriam ficar para permitir sua locomoção. Desconheço a legislação a respeito de árvores, lixeiras e calçamento, mas penso que todos deveríamos mudar nossas atitudes.
Há algum tempo, cadeirantes eram praticamente "escondidos" por suas famílias. Hoje, trabalham, estudam, conquistaram mobilidade. Mas nossas cidades ainda não são pensadas para eles. Nós, como cidadãos, não cuidamos de nossas árvores, lixeiras e calçadas. A prefeitura provavelmente estabelece normas, mas encontrei árvores no meio exato de calçadas e lixeiras que ocupam mais da metade da passagem.
Precisamos tentar resolver isso juntos. Em minhas imagens, fotografei também alguns exemplos legais, de gente que planejou sua casa e sua lixeira pensando em não atrapalhar a calçada. Um outro ponto é que a Prefeitura me disse, via twitter, que os lixeiros só recolhem o lixo deixado nas lixeiras, o que faz com que elas se tornem cada vez mais comuns pelas ruas da cidade, mesmo que inadequadas.

ÁRVORES E PLANTAS

Essa calçada tem três palmeiras enormes. Estranhamente, possui duas rampas de acesso para cadeirantes. Ele até conseguiria subir na calçada, mas não passaria pela base das palmeiras, que são bastante grossas. Além disso, constantemente caem cascas da palmeira, que ficam dias e dias jogadas na calçada. O lixeiro não recolhe. O morador não recolhe. De que adiantam as rampas?





Nessa calçada, o desafio é passar pelo estreito espaço entre a árvore e as plantas, que até são bem cuidadas, mas uma pessoa não consegue passar ali caminhando. Imagine em uma cadeira de rodas? Impossível.

Essa me assustou mesmo! A árvore, em frente a um prédio, foi plantada exatamente no meio da calçada. Devem ter usado até uma fita métrica para calcular onde seria feito o buraco. Fiquei espantada quando vi! Uma cadeira de rodas não passa nem pela direita, nem pela esquerda.
Essa daqui eu tirei no Rio de Janeiro, na Barra da Tijuca, há alguns meses. Dá para perceber a diferença? Calçadas largas, marcação para auxiliar deficientes visuais, padronização, árvores próximas ao meio fio e protegidas por borda. Será que não dava para tentarmos algo similar?



LIXEIRAS


O problema aqui é a largura da lixeira. Quando a gente passa a pé, mal cabe uma pessoa, mas ficamos bem acima do nível do lixo. Pelo menos um adulto. Na cadeira de rodas, o cadeirante iria passar com a cabeça bem próxima ao lixo, uma vez que a lixeira é bastante larga. Crianças também. Eca!





Essa é bem parecida com a anterior. Se um cadeirante tiver que passar por aqui, até tem espaço na calçada, mas ele passará bem perto do lixo. Pertence a um prédio e estava cheia, apesar do dia do lixeiro ter sido ontem!

Esse é outro problema dessas lixeiras nas calçadas, os moradores não respeitam os dias do caminhão da limpeza pública. Além de conviver com os obstáculos na calçada, temos também que conviver com a sujeira. Imagina para uma cadeira de rodas passar aqui? Passo com frequência por essa e está sempre assim...







Olha que bacana este exemplo? O muro foi construído de modo a deixar o espaço para a lixeira ficar embutida, sem atrapalhar quem passa pela calçada. Muito legal!









Nesse outro, o morador combinou árvore e lixeira. Ela é alta o suficiente para que um cadeirante possa passar sem ficar no mesmo nível do lixo. A árvore crescerá direcionada. Um exemplo de quem pensa em suas necessidades e na dos outros. Esteticamente nem ficou tão legal, mas a cidadania vem em primeiro lugar.




20 de jan. de 2011

Sáloa Farah: uma voz marcante cantando samba

Imagem disponível para divulgação
no site www.saloafarah.com.br
Hoje passei o dia ouvindo Sáloa Farah, uma descoberta musical que acabei de fazer. Dona de uma voz maravilhosa, a cantora carioca canta samba de uma maneira única, porque o timbre de sua voz lembra mais o de uma cantora americana de jazz.
Ela se apresentou em Uberlândia no lançamento da revista Cult, no London. A platéia era pequena. Algumas vezes, mais barulhenta do que deveria ser. Um show intimista, onde foi quase impossível assistir sem batucar na mesa ou sambar em pé. Em alguns momentos fomos transportados para a Ipanema de Tom e Vinícius. Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça. Um talento novo na MPB.
Um amigo publicitário com quem conversei durante o show definiu-a de modo especialmente belo. Me disse que, ao fechar os olhos e ouvir a voz poderosa, ele viajava para outro lugar, onde cantava uma negona de 120 quilos, arquétipo das cantoras do jazz (com todo respeito!). Acontece que a cantora brasileira é também dona de uma plástica invejável. Impossível não pensar: onde cabe tanta voz?
Não sou expert em música. Simplesmente gosto de música. Gosto de boas letras. Gosto de boas vozes. Há alguns anos encantei-me pelo timbre de Zélia Duncan quando assistia a um programa na TV Cultura. Ana Carolina também assisti no London, bem antes da fama. Sáloa Farah foi uma feliz descoberta, promovida pela revista Cult.
Uberlândia precisa de eventos como esse. Sou apaixonada por música boa. Em especial por música brasileira. Não sou fã de música sertaneja, mas reconheço que algumas são belíssimas. Não gosto de funk e rock pauleira. Adoro MPB, mas tenho ouvido só coisa velha, porque falta buscar novos talentos. A Rádio Universitária, que adoro, sempre toca cantores locais. Gosto disso e acho que devia haver mais espaço para música de qualidade. Existe uma ditadura da mídia que pode ser cruel. Apenas o que ela dita como sucesso vira sucesso. Porque estamos meio fechados ao novo, embora haja tantas janelas abertas para o mundo, em especial pela web.
Para quem quiser conhecer um pouquinho melhor, visite o site de Sáloa Farah - http://www.saloafarah.com.br/. Tem uma amostra do último CD, "De cartola e de tamanco". Foi esse que passei o dia ouvindo. Quem preferir, achei um clipezinho no youtube. Clique aqui para assistir. E quando tiver a oportunidade, vá conferir. Vale muito a pena!

15 de jan. de 2011

 Hoje eu vou mudar

Todos os anos, na primeira semana, faço uma mega limpeza em casa. Uma limpeza que envolve, principalmente, tirar o velho e abrir espaço para que o novo possa entrar. Novas energias, principalmente. Organizo estantes, gavetas, cds, o quartinho da bagunça. Tenho um princípio: se não estiver usando algum objeto pelo período de um ano, se nem olhei para ele, é porque não me serve mais, está apenas ocupando espaço.
Há exceções, como as roupas de frio que ficam armazenadas nas malas, vestidos de casamento e sapatos de formatura. Tem também aquela velha máquina de datilografia, que comprei com meu primeiro salário de jornalista (uma relíquia!). As cartas trocadas com amigos na época da faculdade. Os velhos diários. Fotografias amareladas pelo tempo...
Como saber o que fica e o que sai? Como saber se posso jogar fora ou doar aquela roupa, aquele sapato? Como decidir se jogarei fora os velhos diários? As roupas fora de moda ou que não me servem mais? Que critério adotar para reforçar aquele que já tenho e que nem sempre cumpro?
Não sei. Jogo muita coisa fora, dou muitas coisas para quem precisa. Tanto que agora, fui olhar o que poderia doar para os flagelados das enchentes no Rio e não encontrei nada. Nem roupas, nem sapatos. Vou doar em dinheiro, acho que pode ser mais útil.
A limpeza de casa sempre me faz pensar na faxina que preciso fazer em meus sentimentos, em minha alma e em meu coração. Há tristezas e mágoas que quero muito jogar fora, sem nunca olhar para trás. Há lembranças que brigam por um espacinho, que me pedem para ficar mais um tempo. Há alegrias tão grandes que são cuidadosamente embaladas em papel de seda perfumado, guardadas cuidadosamente em gavetas da alma. Há pouquíssimos arrependimentos, mas eles existem e ficam lá, na fila esperando para serem jogados fora. Há muitas conquistas, pessoais e profissionais, que me mostram do que sou capaz. Essas eu guardo em um portfólio do qual lembro de tirar a poeira de vez em quando.
Há também os sorrisos, as histórias de amor felizes, os momentos de prazer, as viagens, as alegrias e as lágrimas em família, a criança que fui, os cachorros da infância, as músicas do meu pai que eu reinvento algumas vezes, o colo da minha avó. Há o medo da morte em momentos extremos. O sentimento ambíguo em relação à solidão, que ao mesmo tempo me atrai e me repele. Há o medo do desemprego, de deixar de ser independente, de perder quem amo. Futuro mistura com presente.
Objetos e sentimentos se misturam nessa faxina anual. Coisa de gente organizada que sou. Das coisas me desapego fácil. Das memórias nem tanto. Leio mensagens que falam na importância de virar a página, deixar para trás e crer na beleza que há nos recomeços. Hora de abrir espaço nas gavetas do coração. Jogar as velhas mágoas fora e deixar que o novo entre. Desaprender os velhos medos e a arte de levantar barreiras.
Tem uma música bem antiga, da sempre maravilhosa Vanusa, que diz assim: "hoje eu vou mudar, vasculhar minhas gavetas, jogar fora sentimentos e ressentimentos tolos". Adoro esses versos e sempre que vasculho as gavetas da alma penso nela.
Lembro-me também do meu querido amigo Marcelo Couto, que tem uma frase que adoro: "Estão fazendo faxina para o céu e mandaram todos os anjos aqui para a terra". Se algum anjo por acaso estiver lendo este texto, tem espaço livre aqui. Vem?

Algumas músicas são clássicas. Alguns artistas nos marcam. Essa canção de Vanusa é uma delas. A letra tem muito a ver com o que escrevi. Mudanças, com Vanusa. Clique aqui. O vídeo é meio brega, mas a letra vale a pena em momentos de faxina em nós mesmos.

Cemig envia Declaração Anual de Quitação de Débitos com um ano de atraso!

Em julho de 2009 foi sancionada Lei Federal 12.007, referente à Declaração Anual de Quitação de Débitos. Ela determina que as empresas públicas ou privadas, prestadoras de serviços de energia, água, telefone, entre outros, são obrigada a emitir, até maio do ano subsequente, um declaração dizendo que o cliente está em dia com seus débitos quanto àquela empresa. Assim, o consumidor não precisaria mais ficar guardando dezenas de comprovantes de pagamento por anos seguidos.
A lei diz que a declaração pode vir impressa na própria fatura e deve ser emitida até maio de cada ano ou no mês subsequente ao pagamento da última fatura do ano anterior. Diz também que deve constar que esse documento substitui as faturas anteriores e confirma que o cliente está em dia com seus débitos.
Como a lei foi publicada em 2009, esperava-se que em 2010 as empresas nos enviassem este comprovante, certo? Você recebeu o seu? Cemig, Dmae, CTBC? Alguma delas te enviou este comprovante no ano passado? Bem, aqui em casa ele não chegou. Recebi apenas o da seguradora do automóvel. Dia desses joguei fora as faturas de 2009 e guardei as de 2010. Todas quitadinhas, ocupando espaço em uma gaveta onde guardo estes documentos.
Para meu espanto, neste mês, a fatura da Cemig trouxe a tal Declaração Anual de Quitação de Débitos. No texto, eles dizem que ela se refere aos débitos compreendidos entre 01/01/2009 e 31/12/2010. Ou seja, como descumpriram a obrigatoriedade no ano passado, fizeram tudo agora. O texto da Cemig não me diz que este documento substitui os documentos de quitação anteriores (faturas mensais) e ainda me diz que estou sujeita a eventuais cobranças futuras em caso de identificação de irregularidades e de reajustes tarifários que possam vir a ser feitos.


Clique na imagem para ver o texto maior
Mensalmente confiro minhas faturas porque já tive alguma dor de cabeça por não fazê-lo. Apenas por isso percebi que aquele texto era algo diferente e que deveria ser lido com atenção. Fiquei espantada com o teor da mensagem, dizendo-me que eu estava em dia com minhas contas, mas poderia estar sujeita e cobranças de coisas que nem sei o que são. Além disso, o tal documento vale para os dois anos passados, sendo que a mensagem teria que ter sido enviada ano passado.
Lembro-me que a mídia fez várias reportagens quando do lançamento da lei, mas esqueceu-se de conferir se ela estava sendo cumprida. A Cemig resolveu cumprir com um ano de atraso e um texto grosseiro, que deixa em aberto a possibilidade de que eu possa ser cobrada ainda por coisas que nem sei que devo. Provavelmente foi um texto escrito por advogados apenas para cumprir tabela e não para se relacionar com o cliente. Quer ver como poderia ser diferente? Leia o que eles me enviaram e depois minha singela contribuição.

Minha contribuição:

Prezado cliente,


Parabéns! Você está em dia com o pagamento de suas contas junto à Cemig. Este documento serve para comprovar que você efetivou o pagamento de suas faturas mensais no período entre janeiro/2009 e dezembro de 2010. Guarde essa fatura, porque ela substitui todas os documentos de quitação anteriores, referentes aos meses especificados acima.
Por questões operacionais, essa declaração refere-se à quitação relativa aos dois últimos anos. A partir de agora, a Declaração Anual de Débito será enviada de acordo com o que especifica a lei, ou seja, uma vez por ano. Por questões operacionais, não foi possível fazer isso anteriormente.
A Cemig agradece pela sua pontualidade nos pagamentos e se coloca à disposição para resolver qualquer dúvida que você possa ter a respeito. Este documento vale exclusivamente para registrar a quitação das faturas mensais de consumo. Outros débitos que possam vir a ser apurados não estão contemplados nesta declaração.
Atenciosamente.

Pouco depois de ter escrito este texto, recebi a fatura da CTBC, on line. O texto seco e curto, também me avisa que estou em dia com as "faturas vencidas e pagas até o ano de 2009".
Além do atraso, o texto está muito mal escrito: "as faturas vencidas e pagas (...) se encontram quitadas". Meio óbvio, não? Se foram pagas, estão quitadas. Onde estão os bons redatores?
De que adiantam leis que facilitam a vida do consumidor se são cumpridas ao bel prazer das empresas? E o relacionamento com os clientes? Nota zero!


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10 de jan. de 2011

Atropelamentos e insensibilidade

Dez horas da manhã. Um motorista atropela um cachorro na porta da minha casa. Deixa para trás o bichinho gritando e foge. Vizinhos acodem.
Seis da tarde. Um motorista bate por querer em uma motociclista em uma das esquinas da Segismundo Pereira. Deixa para trás uma mocinha no chão, a moto estragada. Ele foge. Vizinhos acodem.
Um mesmo dia. Uma mesma rua. Quase os mesmos vizinhos. Acabei me envolvendo nas duas situações, pela minha incapacidade de ver uma pessoa ou animal precisando de ajuda e não fazer nada. Mas chamou-me a atenção a indiferença dos passantes.
No caso do cachorrinho, desci e fui até onde ele estava. Em seu desespero, ele tentou voltar para casa mas ficou preso entre as grades do portão. Ele chorava tentando entrar. A família não estava em casa. Eu fiz de tudo para tirá-lo de lá, mas não consegui. Uma senhora parou para me ajudar. Por sorte, os donos da casa voltaram logo e levaram a pobrezinha para o veterinário.
Horas depois, já no fim da tarde, vi o acidente com a moça, quando voltava para casa de carro. Ela caiu bem no meio da avenida, em um cruzamento sem semáforo, por onde passam muitos carros. Parei na hora e coloquei meu triângulo na tentativa de impedir que os carros passassem por cima da moça. Outros motoristas fizeram o mesmo. A polícia demorou a chegar. O socorro demorou quase uma hora. E a moça ali, no chão, cercada por pessoas desconhecidas que seguravam sua mão e tentavam acalmá-la.
Dos dois lados da Segismundo, motoristas insensíveis queriam cruzar a avenida a todo custo. Alguns passaram por ela muito próximos, sem perceber que ali no asfalto, era uma pessoa esperando socorro.
A polícia chegou e a moça continuou ali. Testemunhas contaram que o motorista do carro estava atrás dela no cruzamento. Como ela não queria arriscar-se a atravessar rapidamente a via, ele passou, literalmente, por cima dela. Alguém anotou a placa. Tomara que essa criatura abjeta seja localizada e, no mínimo, tenha muita dor de cabeça para livrar-se do problema que causou.
Indignou-me o fato dos outros motoristas não buscarem rotas alternativas. Muitos passaram próximos à cabeça da menina. Pedestres se posicionaram no meio da rua tentando isolar o trânsito. Motoristas deixaram seus triângulos. Mas nem assim eles paravam. Fiquei pensando que essas pessoas não devem ter filhos, pais, irmãos, maridos, esposas... Quem estava ali no chão era uma desconhecida para aqueles motoristas insensatos, mas era a filha de alguém, a irmã de alguém. A esposa de alguém.
Estamos nos tornando muito insensíveis. Queremos seguir com nossos carros para chegar logo e cumprir nossas obrigações. Um pequeno desvio, para evitar passar perto de uma pessoa sofrendo no chão deve ser algo muito difícil de se fazer quando se está com pressa. Uma pessoa no chão. Um cachorro no chão... Nossa humanidade no chão.
Na semana em que uma pessoa foi assassinada no Center Shopping, outra num bairro qualquer da cidade, um vereador agrediu a esposa, um cachorro e uma mocinha foram atropelados. Os assassinos fugiram. O vereador fugiu. Os motoristas fugiram.
Corriqueiros fatos que já não parecem nos afetar mais. Também fugimos das tristes coisas que cercam as ruas de nossas cidades. Fujamos da indiferença.

2 de jan. de 2011

Quero paz no meu coração

Imagem extraída do blog http://allaboutcarsandraces.wordpress.com/
Meu Ano Novo começou em baixo de chuva, literalmente.
Como faço sempre, fui à missa agradecer por todas as boas coisas que me aconteceram no ano que se encerra. Agradeci também ao Padre Júlio, por todos os preciosos ensinamentos. E ao Seu Milton, pelo carro que ele me vendeu e que me leva a todos os lugares com segurança.
Na saída, encontrei com um homem que um dia tocou meu coração e me beijou como nenhum outro. Ele não me quis. Difícil aprender a não alimentar ilusões e ver as coisas com as pinceladas da realidade. Tenho inveja dos fortes, que se afastam e não olham para trás.
Saí da missa feliz. Ao som de "Esse ano, eu quero paz no meu coração / Quem quiser ter um amigo /  Que me dê a mão / O tempo passa, e com ele caminhamos todos juntos sem parar / Nossos passos pelo chão vão ficar...". Chovia. Caminhei sob a chuva, molhando os cabelos, o vestido, sentindo as gotas no rosto. E segui cantando: "Marcas do que se foi, sonhos que vamos ter...".
Para mim, é muito difícil aprender a olhar apenas para a frente. O passado, com o conforto das experiências vividas é algo quase que soberano sobre nossos corações. Ele nos traz sensações conhecidas, que já não amedontram mais. As marcas do que se foi ficarão para sempre, mas quero entrar em 2011 mais concentrada nos "Sonhos que vamos ter, como todo dia nasce, novo em cada amanhecer"...
No passado deve ficar o que pertence ao passado. Os abandonos de amor, os fracassos profissionais, os problemas em família, os momentos de fraqueza, as lutas pelo equilíbrio, a insegurança, a preguiça de produzir, os desafetos, a maldade que reside no meu coração, mesmo que mega escondida de mim mesma. No passado deve ficar a tristeza que ainda sinto quando penso nele, que tanto me amou mas foi capaz de me ferir igualmente. Deve ficar a escolha infeliz que fiz na carreira. O erro que cometi ao aceitar quem não me merecia em absoluto. No passado deve ficar o que pertence ao passado.
"Sonhos que vamos ter"... Eles pertencem ao futuro. O sonho de me tornar mestre. De reconquistar meu espaço profissional. De conquistar um novo amor. De equilibrar-me financeiramente para poder financiar meus próprios sonhos (alguns custam dinheiro, outros não).
Mas é nesse ano, que começa agora, que "quero paz no meu coração". Quem quiser ser meu amigo, tenho duas mãos. Um coração enorme. Uma casa que cheira cachorro. Um certo dom para cozinhar, em especial doces. Um jardim que dá flores o ano todo. Quero paz no meu coração para viver o hoje. Lembrar de ontem sem dor. Sonhar com o amanhã sem ilusões.
Há muitos anos, escrevo em meus diários meus sonhos para o novo ano. Termino sempre da mesma maneira. Que o novo ano seja pelo menos a metade do ano que passou, afinal, "o tempo passa, e com ele caminhamos todos juntos, sem parar / Nossos passos pelo chão vão ficar"...

Para quem gosta, achei um vídeo curtinho com essa música tão velha e ao mesmo tempo tão doce. Clique aqui para assistir.

1 de jan. de 2011

Força da semente

Tenho um jardim em casa. Pequeno, mas bem cuidado. Nele cultivo plantas maiores, como uma pata de elefante belíssima, que ganhei de presente de aniversário. Ou um pinheiro que ganhei pequenino em um evento. Hoje está enorme.
Costumo também colocar em meu jardim os vasos que compro em supermercados, depois que eles param de dar flor. Semanalmente compro violetas, gérberas, calanchoês, crisântemos, lírios, azaléas, begônias, micro rosas. Alternadamente. Adoro decorar a casa com flores. Elas trazem cor, alegria e boas energias.
Meu jardim combina as plantas maiores com estes vasinhos. Alguns, como os calanchoês, costumam sobreviver. Eu os replanto em vasos maiores e eles continuam florindo. As violetas dão flor o ano inteiro.
Quando resolvo replantar alguma flor, uso vasos maiores, com terra de vasos antigos. Tenho um manacá da serra cercado de violetas na base do tronco. Um pinheiro com trevos de quatro folhas.
Dia desses, surpreendi-me ao encontrar um botãozinho verde em um desses vasos mixados. Ele pertencia a uma orquídea, mas plantei um lírio aproveitando a terra. Quando vi o botão verde, fiquei em dúvida se ele era uma orquídea ou um lírio. Resolvi observar. A cada dia que passa, a planta está mais bonita e com mais cara de lírio. O vasinho que outrora se escondia entre as plantas principais do jardim, agora ganhou espaço nobre e é observado todos os dias. Pareço uma criança olhando para a mudinha de feijão da aula de ciências.
Ao observar minha plantinha, penso no quanto podemos nos comparar a ela. Normalmente, como pessoas, nascemos para enfeitar a vida de outras pessoas com nossa beleza, com nosso conhecimento, com nossa alegria. Somos flores abertas, exalando beleza e perfume.
Mas na vida de qualquer pessoa, nem tudo são botões de rosa. Existem espinhos. Existe o tempo de seca. Existe a tristeza, o abandono, a solidão. Existem momentos em que deixamos de dar flores porque perdemos as forças. Mal conseguimos cuidar da gente, quanto mais enfeitar a vida dos outros. Precisamos de recolhimento. Precisamos buscar energia em algum lugar. Somos esquecidos entre as plantas garbosas do jardim.
Existem pessoas que se recolhem ao esquecimento e efetivamente murcham. Enxergam naquele ostracismo apenas os aspectos negativos. "Deixei de ser flor". "Ninguém cuida de mim". "Fui abandonado para secar e morrer".
Outras pessoas vêem aquele período como tempo para buscar novas forças. Alimentam-se da água da chuva, do calor do sol, do humus das outras plantas. Pensam consigo mesmas que estão recolhidas, buscando alimento físico, mental e espiritual. Em breve voltarão a brotar.
Aí, um belo dia, quando percebem que não tem ninguém olhando, essas pessoas brotam. E se tornam belos botões. E se tornam belas flores. E se tornam belos frutos.
Quem acredita em si mesmo traz sua força na semente, não na aparência. Quando a semente é forte, as intempéries podem até chegar, abalar temporariamente a certeza das coisas. Mas elas são incapazes de destruir a força da semente. A beleza de quem sabe ser flor, nascida para encantar a vida dos outros.
Minha plantinha me deu uma bela lição.

Uberlândia tem duas faculdades com nota 4 no indice geral de cursos do MEC

Foi publicado no dia 13 de janeiro, no site do Inep - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - o índice geral de cursos das instituições de ensino superior brasileiras (http://www.inep.gov.br/areaigc/). De acordo com definição que consta no próprio site, "o Índice Geral de Cursos da Instituição (IGC) é um indicador de qualidade de instituições de educação superior, que considera, em sua composição, a qualidade dos cursos de graduação e de pós-graduação (mestrado e doutorado)".
Com muito orgulho, vi que a instituição onde dou aula (ESAMC) e a instituição onde faço mestrado (UFU) foram avaliadas com o conceito 4 (em uma escala que vai de 1 a 5).
Feito a partir de um cálculo bastante complexo, a "nota" pode servir como um indicador da qualidade do ensino superior no Brasil, mas infelizmente, muitas vezes se transforma em um ranking que avalia o melhor e o pior, contribuindo para a mercantilização do ensino. O índice deveria servir como um desafio para o corpo docente e discente, para que todos busquemos a melhoria contínua naquilo que fazemos. Quer nosso papel seja o de educador ou o de educando.
Há dois anos comecei a fazer mestrado e também a dar aulas. Aos poucos, passei a entender melhor o funcionamento da educação superior no Brasil. O país possui ainda um baixo número de doutores e mestres, carreiras que exigem muita dedicação. Ser pesquisador é uma profissão como outra qualquer, com a diferença de que estamos desenvolvendo conhecimento e formando cidadãos. A remuneração dos professores, em especial os da rede privada, é baixa comparado a nossa responsabilidade. A convivência com uma população jovem cada vez com valores mais diferentes dos nossos, exige não apenas conhecimento em nossa área de atuação, mas também uma grande habilidade de gerenciamento de conflitos. Ano passado, vimos um aluno que assassinou um professor e outro que quebrou os braços de uma professora.
Neste cenário, embora os indices de qualidade sejam bem vindos, creio que a reflexão tem que ser mais profunda. Que formação damos aos nossos jovens? Que tipo de exemplo somos em sala de aula? De que maneira procuramos nos manter ativos intelectualmente? Quanto tempo temos para investir em pesquisa e extensão se muitos de nós trabalhamos nos três períodos em busca de uma remuneração adequada às nossas necessidades? De que maneira somos tratados pela sociedade quando respondemos: sou professor!
Normalmente, quando deixo de sair com um amigo porque preciso estudar, escuto coisas como "coitada", ou "deixa para estudar depois", ou "você estuda demais". Quando trabalhava como executiva em uma multinacional e deixava de sair porque estava assoberbada de trabalho, ouvia coisas do tipo "Nossa, como ela é profissional!". No mínimo, posturas paradoxais daqueles que vêem na educação apenas um pedaço de papel onde existe um título impresso.
Educação é tudo. E nunca poderemos nos esquecer disso. Por isso retomo a divulgação dos indicadores do Inep. O jornal Correio de hoje trouxe uma matéria dizendo que a UFU ficou apenas com nota 4 (os conceitos variam de 1 a 5). Acho uma nota 4 extremamente relevante. A ESAMC, onde leciono, também obteve este indicador. Poderia ser um 5? Com certeza. Mas para isso, precisamos trabalhar juntos: professores, doutores, graduandos, mestrandos e doutorandos. Precisamos produzir mais, pesquisar mais, aproximar os campos empresarial e acadêmico, derrubando muros. Preconceitos existem dos dois lados. O mercado desvaloriza o conhecimento acadêmico. A academia menospreza o conhecimento produzido pelas empresas.
Fiz um resumo dos dados divulgados pelo Inep, para quem tiver interesse. No primeiro quadro, o Indice Geral dos Cursos Superiores oferecidos em Uberlândia. No segundo, separadamente, a nota do Enade (comparação entre entrandes e concluintes dos cursos avaliados) e da avaliação institucional feita pelo MEC. Temos muita coisa boa sendo produzida em nossas universidades, tanto na pública quanto nas privadas. E temos muito que melhorar. Por isso me dedico tanto em ser uma boa professora e em fazer o mestrado de maneira aprofundada. Para mim, estudar é profissão.
Um bom sistema de educação superior depende de gente comprometida, educada e que ame o que faz. Caso contrário, continuaremos com índices medianos como os que estão refletidos abaixo, em sua maioria.


Indice Geral de Cursos - Universidades, Faculdades e Centros Universitários de Uberlândia









Detalhamento dos conceitos de cursos (ENADE e avaliação do MEC).



Para ver em tamanho maior, clique sobre a figura.













Abaixo a Lei de Gérson!

Imagem publicada no site
http://blogs.abril.com.br/divadomasini
Vivemos em uma cidade com cerca de 600 mil habitantes. Uma cidade com qualidades e problemas. Uma cidade onde vivem pessoas de bem, trabalhadores, empresários, artistas, professores, estudantes. Mas onde também vivem pessoas que querem levar vantagem em tudo, como no velho comercial que serviu para instaurar a lei de Gérson. Pessoas que acreditam estar acima das leis, que as desafiam o tempo todo, no trânsito, nas empresas, nas escolas, na vida em sociedade. Aqui vivem também pessoas com diferentes nuances, ora comportando-se como cidadãos comuns, ora como espertos de plantão.
Três tipos de espertos me incomodam profundamente. Os motorizados, os barulhentos e os sujismundos. Os primeiros são aqueles que, ao volante de um carro, se esquecem que dirigem entre outros motoristas, automóveis e pedestres. Outorgam-se o título de donos da rua e desrespeitam descaradamente qualquer tipo de lei. Seja de trânsito ou de boa convivência. Os espertos do segundo tipo são aqueles que ligam a música no mais alto volume, fazem festas até tarde ou fincam seus bares em áreas residenciais, oferecendo música ao vivo mesmo sem autorização para isso. Os sujismundos são aqueles que jogam lixo no chão, que despejam latinhas pelas janelas dos carros, que esparramam pela calçada o lixo doméstico sem se preocupar em acondiciá-lo melhor. O pior é que os três ensinam seus filhos a agirem da mesma maneira, o que me desanima quanto à sociedade que teremos no futuro.
Torço, do fundo do coração, para que um dia a lei se faça cumprir em relação a essas criaturas. Todas as vezes que vejo um motorista avançar um sinal, virar em local proibido ou estacionar de maneira irregular, fico torcendo para que a polícia o flagre ou então para que ele se dê mal com a manobra e acabe com seu belo carro no primeiro poste que aparecer em sua frente. Espero que se dêem muito mal, mas espero que estejam sozinhos quando isso acontecer, porque ninguém merece ser vítima de um louco no volante.
Hoje mesmo quase presenciei um acidente estúpido. Estava em uma rotatória onde tinha um semáforo. Ao meu lado, outro carro. De repente veio uma viatura com a sirene ligada. O que a gente aprende quando isso acontece? A prioridade é da viatura. Temos que sair da frente e dar passagem. O sinal abriu e eu fiquei quietinha no lugar, dando o espaço para o carro oficial e sua sirene estridente. A motorista ao meu lado arrancou e foi embora, quase se chocando de frente com o carro da polícia. Eu gritei de susto! São coisas tão simples, meu Deus. Que diferença enorme faria na vida da motorista os dois segundos que a viatura demorou para passar?
Quanto aos barulhentos, não consigo imaginar uma vingança, porque eles devem gostar de barulho. Então, colocar uma buzina tocando 24 horas na orelha deles me parece muito pouco. Aqui perto de casa tem uma dessas lojas que instalam som em carros. Eles colocam o sistema no último volume quando fazem os testes. Chega a tremer os vidros da casa. Aqui perto tem também um bar desses bem fuleiros, onde o som fica ligado até de madrugada. Não adianta ligar para a polícia nem para aquela patrulha ambiental, porque eles não aparecem nunca. O jeito é conviver com essa raça e torcer para que eles parem cedo a barulhada.
Já os sujismundos, estes também deveriam ser multados. Jogam lixo no chão, nos terrenos vazios, pelas janelas dos carros. Até existe uma multa para esse caso, mas é quase impossível fazer um flagrante. Quando a gente está dirigindo vê cada absurdo que se pudesse registrar e mandar para a polícia, ia ter muita gente levando multa por aí. Quando essas pessoas sujam a cidade, seja qual for a maneira, contribuem para entupir redes de escoamento de águas e para as enchentes que acontecem na época de chuvas.
Infelizmente Uberlândia tem muitos desses três tipos de criaturas abomináveis. Resta-nos conviver com eles e torcer para que um dia se dêem mal, muito mal.


Embora tenha sido produzida em um Brasil que vivia em pleno regime militar, a campanha do Sujismundo vale a pena ser vista. Foi criada no início da década de 70, pelo quadrinista Ruy Perotti Barbosa. Era composta por vários comerciais que mostravam atitudes que, infelizmente, vemos todos os dias nas ruas de nossa cidade. Se quiser assistir, clique aqui.