30 de out. de 2010

Triste eleição

Domingo, 31 de outubro. Nunca antes na história desse país havia me decidido por não entregar meu voto a nenhum candidato. Muitos consideram isso como fuga em assumir uma posição, alienação, falta de responsabilidade, até. Eu considero essa a minha escolha, nem um candidato, nem outro. Fiquei triste na urna, muito triste por ter que chegar a um momento em que sou incapaz de escolher entre alguém ruim e alguém muito pior para liderar meu país pelos próximos quatro anos.
Sei que de toda forma alguém será eleito e irá gerir essa imensa nação, cheia de potencialidades, cores, riquezas, alegrias, mas também cheia de tramóias, corrupção, máscaras de poder sobre a realidade do homem simples, que trabalha, paga contas, tenta educar os filhos para que estes tenham uma vida melhor.
O domingo em Uberlândia amanheceu triste. Acinzentado. Como se o azul do céu fizesse falta nesta que deveria ser a grande festa da democracia. Fui às urnas logo cedo, depois de ir à missa e rezar para Deus me iluminar e manter, mesmo que totalmente contra minha natureza política, minha decisão de votar em branco, pela primeira vez desde que tirei meu título de eleitor, há cerca de vinte anos.
Ao caminhar para a seção eleitoral, me perguntei sobre a tal festa, ao me deparar com pessoas mal humoradas trabalhando como mesárias (e é para ficar assim mesmo), trabalhei em várias eleições e sei bem o que é passar um domingo todo ali, ouvindo o repetitivo e chato barulho da urna eletrônica. No percursos, meu olhar se cruzou com o de muitos eleitores que refletiam em seus rostos uma certa tranquilidade. No final, o que nos resta é esperar que venham os próximos quatro anos.
É triste ver a que ponto "o país do futuro" chegou. Um país onde a política está ligada à corrupção, onde predomina a lei de Gérson, aquela que diz que o importante é levar vantagem em tudo, mora? Um país de pobres morrendo soterrados após deslizamentos, onde a educação está sucateada, onde pessoas morrem diariamente na fila de hospitais. Um país onde a imprensa é tratada como vilã ao invés de guardiã da democracia. Um país onde o chefe de Estado nunca vê o que acontece fora das dependências de seu gabinete e influencia, pela força de seu carisma, a eleição de uma marionete para assumir o cargo de presidência da república. Talvez ele se esqueça que, em velhos filmes de terror, a marionete ganha vida e volta-se contra o ventríloco.
Mas apesar destes pesares, é o país que eu amo. O Brasil que é minha casa. Que é forte, verde e amarelo, que produz música como ninguém, país de todos os ritmos, cores e sabores. País de gente honesta, trabalhadora, que acredita no futuro. País de paradoxos.Para fechar este post, busquei alguma versão de Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, música que para mim é o verdadeiro hino do país. Como falei acima de paradoxos, uma das belas versões que encontrei foi a feita por Walt Disney, onde ele apresenta um país de música e magia, embalado pelo Zé Carioca mostrando os encantos do Rio para Pato Donald. Clique aqui para conferir. Tempos boêmios de uma cidade que não existe mais.

Um comentário:

Anônimo disse...

Entre o ruim e o muito pior, decidi votar no ruim, mas eu já sabia que eu não "acertaria" o resultado dessa loteria. :-))

Bons tempos aqueles das coisas que o Zé Carioca apresenta ao Pato Donald. Nasci no Rio e fico triste ao ver o que fizeram com ele.