1 de set. de 2010

Campanha eleitoral

Semana passada escrevi a respeito de pequenos deslizes que empresas cometem e que fazem com que seus clientes peguem a maior birra. Em algumas vezes, são situações que poderiam ser resolvidas a partir de uma boa conversa, de uma justificativa ou de algum tipo de compensação pelo transforno sofrido. Foi uma das muitas reflexões que tenho feito sobre imagem organizacional, conquista e fidelização de clientes.
Minha birra dessa semana vai para a campanha eleitoral, que usa e abusa de recursos que talvez funcionem, mas são detestáveis para uma parte da população. Falo, em primeiro lugar, do famigerado carro de som, que invade os bairros da cidade e desde às 8h da manhã de um sábado começa a repetir seu jingle que mais parece um pesadelo para quem ainda precisa dormir um pouco. A única coisa que lembro deles são números desconexos. Tenho tanta raiva que nem presto atenção no nome ou na mensagem. Isso sem falar nas vezes em que estamos no nosso próprio veículo atrás deles. Andam devagar, atravancam o trânsito e mantém o volume super alto, sufocando o pobre motorista que calhou de se aproximar.
Outro dos meus espantos fica por conta das pessoas que chacoalham bandeiras nos cruzamentos da cidade, sob a luz do sol do meio dia. Nos cruzamentos das principais avenidas da cidade, cabos eleitorais de diferentes candidatos enfrentavam bravamente o sol do meio dia, sem qualquer tipo de proteção contra os raios solares, que embora mais fracos no inverno, devem ser tão nocivos quanto no verão. Ao passar por essas pessoas, não presto atenção aos números dos candidatos, mas ao quanto elas estão se expondo de maneira desnecessária. Não dá para saber se elas recebem protetor solar dos candidatos ou mesmo se recebem alguma orientação sobre a exposição ao sol, mas o fato é que elas estão lá, tremulando bandeiras nos cruzamentos da cidade. Um bonezinho já ajudava...mas acho que a justiça também proibiu...
Nesta manhã, quando passava pelo cruzamento da avenida Rondon Pacheco e João Naves de Ávila, um vendedor ambulante me pegou de prosa e disse que os cabos eleitorais atrapalham o movimento das vendas. Isso porque as pessoas, quando vêem as bandeiras já sabem que receberão santinhos ou gente pedindo para colar adesivos nos carros. Isso faz com que elas fechem o vidro e não abram para os ambulantes. "Eles acabam com a gente, minha filha", foi o que o ambulante me disse.
Os santinhos são outra coisa que acho complicada nas eleições. Por um lado, eles são uma boa maneira de conhecermos os candidatos. Alguns trazem o currículo e as realizações deles, o que nos ajuda a ter maiores informações. Por outro lado, aqueles que contém apenas nome e número não nos dizem nada. Pedaços de papel que rapidamente vão parar na pilha de reciclagem. Aliás, o volume dela vai aumentar nesse período eleitoral. Mas me comprometi a ler os folhetos que trazem o perfil dos candidatos, nem que seja apenas para conhecer e reforçar minhas escolhas. Isso sem contar que eles acabam sendo jogados nas ruas da cidade, deixando-a suja e mal cuidada.
Acredito que o grande desafio é pensar diferente sobre campanhas eleitorais. Os profissionais que assessoram as campanhas fizeram apenas substituições práticas. A justiça proibiu out door? Usemos pessoas tremulando bandeiras sob o sol fervente do cerrado. Ou então, carros totalmente adesivados que ficam estacionados em pontos chave da cidade o dia inteiro. A justiça proibiu comícios com shows? Comício sem show não dá ibope. A justiça delimita tempo no rádio e na TV? Dá-lhe carros de som com jingles que repetem várias vezes o número dos candidatos.
Até onde sei, a justiça não proibiu debates. Na TV, na web, no rádio. Semana passada, o primeiro debate dos candidatos à presidência realizado via web teve mais de 1,7 milhão de acessos. Foi comentado ao vivo por brasileiros de todos os cantos, por meio do twitter. Na TV, o primeiro foi considerado morno, mas os candidatos tiveram vez e voz.
Penso que, em uma sociedade que anda preocupada com meio ambiente, os debates, o horário eleitoral gratuito, a cobertura da mídia sejam meios muito mais eficazes de conquistar o eleitor do que carro de som, santinhos e pessoas tremulando bandeiras nas quais provavelmente nem acreditam. Ao mesmo tempo, essa campanha, pelo menos em Uberlândia, desrespeita o trabalhador que quer dormir um pouco mais no fim de semana. Desrespeita as ruas da cidade e as casas das pessoas, com pilhas de papel que invadem os espaços. Desrespeita os cabos eleitorais, que são contratados para ficarem sob o sol com bandeiras e sem proteção. Talvez isso desse uma boa pauta, entrevistar os cabos eleitorais para ver se estão se protegendo dos raios solares e dermatologistas que falem dessa exposição.
Penso que talvez estejamos vivendo uma crise de criatividade em relação à campanha política, em parte motivada pelas muitas restrições impostas pela justiça eleitoral. Também não tenho uma resposta, mas penso que talvez fosse possível seguir outro caminho, que despertasse o interesse dos eleitores para conhecer a proposta dos candidatos e fazer uma escolha consciente.
Do jeito que está, essa campanha tem me provocado é repulsa, sem exceções. Dignidade e cidadania também merecem espaço na comunicação.

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